Hoje foi mais um daqueles dias que tive que recolher os meus pedaços, pois tudo de mim ficou ali, jogado no chão...
Cheguei em casa, e ele me olhou com aquele olhar, aquele que conheço tão bem. Uma mistura de reprovação e sarcasmo. Me perguntou por onde eu tinha andado, respondi o óbvio, que tinha ido visitar algumas clientes. Ele me olhou de cima a baixo, e mais irônicamente disse: as clientes ou Os clientes?
Nessa hora senti meu sangue gelar. Não por ter feito nada errado, até porque não menti, mas com mentiras ou verdades sempre acontecia a mesma coisa...
Ele se aproximou, mais e mais, já sentia seu hálito e aquele cheiro de sofá, de preguiça, que tomava conta do corpo dele. Puxou meu queixo e me obrigou a beijá-lo. Segurou mais forte, até que pude sentir seus dedos como se fossem esmagar meu maxilar. Me desvincilhei e o empurrei. Ele me segurou pelos cabelos, e disse que eu era uma desgraçada, uma coisa infeliz, uma trouxa de coisa velha...chutou minha canela, com força, mas eu não me dei ao prazer de chorar.
Fechou a mão, e isso foi a última coisa realmente nítida que eu pude ver...acertou meu olho, e depois todo o meu rosto, sem interromper por um instante. Só batia e batia. Caí no chão, respirei, passei a mão no rosto e vi que estava encharcado de suor, sangue e vergonha. Tentei me levantar, mas recebi um pontapé no estômago , e outro, outro...pelo corpo inteiro...pela alma. Quanto mais eu gemia, mais ele ria. Ria alto, gargalhava e dizia coisas sujas. Por fim, como em um ritual, pegou seu estilete (maldito) de estimação e fez um tracinho no dorso da minha mão, ali tinha mais alguns, um colado ao outro. Sorriu para mim e disse:
Quando será que te darei outro desse, riqueza?
Vestiu a camisa, abriu a porta e foi para a rua. E eu aqui, sem ser, recolhendo o que restou de humanidade ou dignidade em mim.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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8 comentários:
Biana.
Que máximo esse blog ficcional! Que máximo o teu entendimento sobre essa ficção. Que máximo esses recortes! Em pensar, que relutastes tanto pra fazer o primeiro blog?
Vá firme ... vamos em frente, querida.
Um beijo, Bel.
Olá Biana, também acho que nossos olhos internos são muito mais verdadeiros , até pq não é preciso ninguém ver o q eles veem, não é? Um livro q recomendo sempre aos alunos é "O menino que espiava para dentro", da minha autora favorita Ana Maria Machado, é lindo como ele vê o q quer através desta visão inconsciente! Leia, vale a pena. Acho mto bom podermos ver o q está á nosa frente, mas tb tentarmos entender o q os olhos internos nos dizem, p mim isto é tb intuição. Apareça sempre Bjks
Legal Bi!
Achei a estória pesada, mas infelizmente bem real hoje em dia...
Bjooos
Boa sorte com o novo Blog!
Porrada. Realista.
Sá achei a personagem muito consciente de sua situação, principalmente na narração final. Me parece, que nesses casos, a mioria das pessoas está meio cega de paixão, de vergonha e de outros sentimentos e não consegue raciocinar claramente como a personagem.
Acho que quando uma pessoa chega nesse ponto ela já saiu fora desta situação.
Que venham outros.
Abraço.
Pesado sim, mas verdadeiro!
Uma ficcao que pra muitas mulheres, infelizmente, é uma realidade...
mt bom Bi!
Ai Biana... Que triste isso.
Mais triste ainda é saber que isso acontece a todo momento.
Gostei da idéia do blog.
Bjux!
Oi, Biana,
Vim através da Bel e da Sheyla. Amigas linkadas na "minha casa", rs.
Adorei a idéia de um "Diário de uns e outros". Faço isso no meu, às vezes. Ao contrário de vc, misturo tudo numa bagunça incrível, como minha cabeça é e meu coração está. Assim, também, crio álibes, preservo minha intimidade, de certa forma. No final pode ser ou pode não ser; foi ou ainda será; aconteceu ou sonhei?
Seu texto é muito profundo. Traz várias reflexões...
Adicionarei vc aos meus favoritos, permite?
Um beijo.
Elga
Adorei o Blog, amiga, apesar da história triste..Tô com saudades!Bjus!
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