quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Hoje foi mais um daqueles dias que tive que recolher os meus pedaços, pois tudo de mim ficou ali, jogado no chão...
Cheguei em casa, e ele me olhou com aquele olhar, aquele que conheço tão bem. Uma mistura de reprovação e sarcasmo. Me perguntou por onde eu tinha andado, respondi o óbvio, que tinha ido visitar algumas clientes. Ele me olhou de cima a baixo, e mais irônicamente disse: as clientes ou Os clientes?
Nessa hora senti meu sangue gelar. Não por ter feito nada errado, até porque não menti, mas com mentiras ou verdades sempre acontecia a mesma coisa...
Ele se aproximou, mais e mais, já sentia seu hálito e aquele cheiro de sofá, de preguiça, que tomava conta do corpo dele. Puxou meu queixo e me obrigou a beijá-lo. Segurou mais forte, até que pude sentir seus dedos como se fossem esmagar meu maxilar. Me desvincilhei e o empurrei. Ele me segurou pelos cabelos, e disse que eu era uma desgraçada, uma coisa infeliz, uma trouxa de coisa velha...chutou minha canela, com força, mas eu não me dei ao prazer de chorar.
Fechou a mão, e isso foi a última coisa realmente nítida que eu pude ver...acertou meu olho, e depois todo o meu rosto, sem interromper por um instante. Só batia e batia. Caí no chão, respirei, passei a mão no rosto e vi que estava encharcado de suor, sangue e vergonha. Tentei me levantar, mas recebi um pontapé no estômago , e outro, outro...pelo corpo inteiro...pela alma. Quanto mais eu gemia, mais ele ria. Ria alto, gargalhava e dizia coisas sujas. Por fim, como em um ritual, pegou seu estilete (maldito) de estimação e fez um tracinho no dorso da minha mão, ali tinha mais alguns, um colado ao outro. Sorriu para mim e disse:
Quando será que te darei outro desse, riqueza?
Vestiu a camisa, abriu a porta e foi para a rua. E eu aqui, sem ser, recolhendo o que restou de humanidade ou dignidade em mim.

8 comentários:

Bel disse...

Biana.
Que máximo esse blog ficcional! Que máximo o teu entendimento sobre essa ficção. Que máximo esses recortes! Em pensar, que relutastes tanto pra fazer o primeiro blog?
Vá firme ... vamos em frente, querida.
Um beijo, Bel.

Marisa Pimenta disse...

Olá Biana, também acho que nossos olhos internos são muito mais verdadeiros , até pq não é preciso ninguém ver o q eles veem, não é? Um livro q recomendo sempre aos alunos é "O menino que espiava para dentro", da minha autora favorita Ana Maria Machado, é lindo como ele vê o q quer através desta visão inconsciente! Leia, vale a pena. Acho mto bom podermos ver o q está á nosa frente, mas tb tentarmos entender o q os olhos internos nos dizem, p mim isto é tb intuição. Apareça sempre Bjks

Carol disse...

Legal Bi!
Achei a estória pesada, mas infelizmente bem real hoje em dia...

Bjooos
Boa sorte com o novo Blog!

Jerri Dias disse...

Porrada. Realista.
Sá achei a personagem muito consciente de sua situação, principalmente na narração final. Me parece, que nesses casos, a mioria das pessoas está meio cega de paixão, de vergonha e de outros sentimentos e não consegue raciocinar claramente como a personagem.
Acho que quando uma pessoa chega nesse ponto ela já saiu fora desta situação.

Que venham outros.

Abraço.

Nina disse...

Pesado sim, mas verdadeiro!
Uma ficcao que pra muitas mulheres, infelizmente, é uma realidade...
mt bom Bi!

Marsyah disse...

Ai Biana... Que triste isso.
Mais triste ainda é saber que isso acontece a todo momento.

Gostei da idéia do blog.

Bjux!

Elga Arantes disse...

Oi, Biana,
Vim através da Bel e da Sheyla. Amigas linkadas na "minha casa", rs.
Adorei a idéia de um "Diário de uns e outros". Faço isso no meu, às vezes. Ao contrário de vc, misturo tudo numa bagunça incrível, como minha cabeça é e meu coração está. Assim, também, crio álibes, preservo minha intimidade, de certa forma. No final pode ser ou pode não ser; foi ou ainda será; aconteceu ou sonhei?
Seu texto é muito profundo. Traz várias reflexões...
Adicionarei vc aos meus favoritos, permite?
Um beijo.
Elga

Thais disse...

Adorei o Blog, amiga, apesar da história triste..Tô com saudades!Bjus!